“Passaremos a fazer modelos menos massificados”, comenta Icaro Leite sobre um futuro Open Data

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Quando se fala em algumas tecnologias, o Brasil é pioneiro! Isso inclui o Open Insurance, movimento iniciado em dezembro de 2021, quando a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) estabeleceu um cronograma de implementação em três fases.

A fase 1, feita para organizar o compartilhamento dos dados abertos entre as seguradoras, como telefones de contato e produtos adquiridos, já está completamente implantada. Já na atual (fase 2), os dados consentidos pelos titulares à suas atuais seguradoras estão sendo disponibilizados. Na última etapa, ocorrerá o compartilhamento de dados de contratação, pagamento de indenização, entre outros. Tudo isso, claro, desde que os titulares dos dados deem permissão.

Como o Open Banking para o setor financeiro, o Open Insurance para as seguradoras abre novas oportunidades de geração de negócios para o setor.  “Uma vez dado o consentimento para compartilhar informação e iniciado o processo de contratação de seguros, quem tiver a melhor experiência, conseguir fazer a melhor construção de onboarding ou de tentativa de venda, vai ter mais sucesso”, explica Icaro Demarchi Araujo Leite, Superintendente de Produtos de Seguros na B3.

Open Banking e Open Insurance são dois lados de uma mesma moeda: o Open Finance nos colocará mais perto de um verdadeiro cenário “Open Data”, em que a troca de informações não estará limitada a setores. Haverá compartilhamento de dados entre mercados de diversos nichos, o que poderá resultar na oferta de melhores produtos e experiências para os clientes.

Nesse contexto, a velocidade na construção de propostas e produtos personalizados será uma vantagem competitiva para quem conseguir melhor interpretar os dados à disposição.

“Em uma jornada de iniciação, em que o cliente demanda por uma cotação, a seguradora tem até 60 minutos para devolver. Quem devolver em milissegundos vai ter uma vantagem porque pode ser que a pessoa precise mais imediatamente daquele produto, então ela vai acabar fechando a proposta de forma mais simples. Em termos de tecnologia, será importante ter uma latência baixa, ser muito rápido nas respostas, entregar tudo o que é necessário de forma ágil, simples e segura”, comenta Leite.

Ainda segundo ele, o ecossistema de seguros já sabe que quanto mais compartilhar informação – de forma anonimizada, respeitando LGPD -, mais seguro e resiliente ficará o ecossistema. 

“Uma vez ouvi que a maior disrupção é a inclusão. Quanto mais gente estiver protegida dentro do sistema, melhor. Acho que esse é o objetivo da nossa atividade”, comentou Leite em um bate papo para o Neoway Conecta sobre Open Insurance e sobre como a B3 pode ajudar.

Neoway (N): Qual será a importância do Open Insurance para o negócio de seguradoras?

Icaro Leite (IL): Vamos ter um ganho de velocidade, seja no onboarding, seja no pagamento de prêmio. Eu diria que talvez a gente tenha no futuro situações – como já vi no mercado externo – , em que se o epicentro de um furacão passa em cima de uma casa que está assegurada, na hora que o furacão passou o dinheiro já está na conta da pessoa e ela vai até uma home depot [depósito doméstico] comprar o que precisa para arrumar o telhado, a porta e a  janela.  

N: Como as seguradoras estão atuando neste momento para viabilizar o Open Insurance?

IL: Em termos de tecnologia, as seguradoras tiveram que fazer algumas adaptações. Existe um contexto tecnológico que é relevante: não é, necessariamente, a seguradora que vai ter que puxar a informação de um repositório dela para mandar para fora. Isso vai se dar via API, mas, o mais importante, é termos um processo seguro de transmissão e de checagem de que o Icaro é o Icaro mesmo, por exemplo. 

Por isso, nesse momento, quem mais tem acompanhado as discussões têm sido os times de tecnologia, para prover a melhor segurança para acompanhar e identificar se tudo que está sendo exigido do ponto de vista de segurança cibernética e tecnologia está sendo provido, e os times de compliance das seguradoras para ver se aquilo que é exigido pela norma está sendo entregue. 

Quando passarmos para a segunda e terceira fase do Open Insurance, vamos começar a ter os times de negócios e de produto das seguradoras observando as oportunidades que chegarão com as informações. 

N: O mercado está preparado em questões de infraestrutura e segurança necessárias? Como a B3 pode ajudar?

IL: Eu acho que o mercado está relativamente bem preparado. O grosso e mais difícil vão ser os dados transacionais porque é o que vai percorrer dentro do ecossistema do Open Insurance, e, também, as informações de pagamento, sinistro, um eventual endosso, por exemplo.

Quando olhamos para o ecossistema de uma seguradora, ele pode ter vários sistemas rodando para fazer a gestão de uma determinada apólice: pode ter um sistema que roda, especificamente, prêmio; um que roda abertura de sinistro; um que roda a parte de cadastro e assim por diante. Quando uma API chega no ambiente da seguradora e chama os dados cadastrais e transacionais, em tese e, pela lógica, ele vai ter que passar em cada um desses sistemas.

Agora, imagine as seguradoras trabalhando no dia a dia nesse ambiente de produção e, no meio do dia, sendo pinçada uma, duas, três, quatro, milhares de vezes. Isso pode sobrecarregar os sistemas das seguradoras, essa passagem de informação pode ser dolorida. Por isso, a B3 criou um produto que nos conecta com o universo desse sistema de registro de operações da Susep, o SRO (Sistema de Registro de Operações). Assim, os dados da seguradora ficam em um único ambiente centralizado, totalmente protegido. A B3 repassa as informações, especialmente transacionais, que estão no nosso ambiente para a seguradora que está pedindo a informação sem pesar o ambiente produtivo da seguradora parceira da B3.

A nossa ideia é tornar o ambiente mais estável, mais simples e mais seguro porque serão vários acessos chamando a seguradora no dia a dia. Controlamos o monitoramento das APIs, as entradas e acompanhamos também as alterações das APIs por parte da Susep, dando mais tranquilidade e desonerando o ecossistema da seguradora para que ela possa vender e criar produtos novos, gerar novas oportunidades de negócio.

N: Assim como o Open Banking abre oportunidades além mercado financeiro, você consegue ver outros setores, além das seguradoras, também se beneficiando do Open Insurance?

IL: Esses mundos [Open Banking e Insurance] vão se entrelaçar e, consequentemente, deverá ter a criação de produtos que se entrelaçam nesse processo. Pode-se utilizar o próprio Open Banking dentro desse ecossistema de Open Finance para fazer pagamentos para fornecedores, seguradoras, oficinas, comissão de corretagem; facilitando e controlando melhor o que está acontecendo. 

O melhor caminho é que todas as empresas, estando ou não dentro do ecossistema, identifiquem as oportunidades. É importante estudar, entender e colocar os times de produto para olhar, inclusive, se for o caso, ofertar produtos em conjunto com o ecossistema de Open Insurance.

Dá para criar marketplaces, wallets [carteiras digitais] e uma série de outros benefícios diretamente ao consumidor final que vai ter uma experiência diferente, mais rápida e conseguir olhar novas oportunidades. 

N: Como esse cenário Open Data pode ampliar ou modificar ofertas, negócios e produtos das seguradoras em um futuro próximo?

IL: Com o tempo, passaremos a fazer modelos que sejam menos massificados do que temos hoje. Vou dar um exemplo: eu e meu vizinho temos 40 anos, se resolvemos fazer um seguro de vida vamos estar na mesma faixa etária, mesmo sexo e, consequentemente, vamos ter o mesmo valor de prêmio para pagar mês a mês.

Só que a diferença pode ser que eu sou uma pessoa que se exercita diariamente, nado três vezes na semana, me alimento bem, tenho uma saúde boa e estável, enquanto meu vizinho não faz nada, está se alimentando mal e obeso extremamente. Dessa maneira, eu estou em desvantagem, perante esse meu vizinho, pagando mais caro apesar de estar me cuidando melhor.

Quando entramos em um mundo de Open Data, em que a informação trafega de forma mais simples – mediante consentimento -, posso pegar, no futuro, informações de health, por exemplo, do meu celular, disponibilizar para uma seguradora e ela vai estar monitorando mais ou menos o meu dia a dia. Posso disponibilizar informações de algum sistema que é instalado no meu carro que acompanha se eu gosto de acelerar o carro demais ou não, se freio demais, se ando acima do limite de velocidade nas estradas e assim por diante.

Olhando para uma perspectiva mais futurista e levando em consideração também internet das coisas, o dado vai ser essencial para que possamos fazer uma precificação melhor, não só na subscrição, mas também saber por que a pessoa bateu o carro: ele está contando que bateu o carro, mas que ele não teve culpa, mas alguns segundos antes ele estava acelerando o carro absolutamente e, consequentemente, foi imprudente, bateu o carro. 

Esse dado, se bem trabalhado, vai gerar insights relevantes para tomada de decisão, seja na entrada, seja no momento do pagamento, seja na saída. O dado, por si só, não tem valor, é um dado bruto por si só não tem valor. O que é importante é trabalhar essa informação para tomar a melhor decisão. 

Por 

Neoway

A Neoway é a maior empresa da América Latina de Big Data Analytics e Inteligência Artificial para negócios. Fundada em 2002, em Florianópolis, lançou a sua plataforma SaaS em 2012, e, hoje, está presente em todo o Brasil.

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