Open Finance vale a pena para empresas e consumidores?

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Quem tem o aplicativo de um banco instalado no celular já se deparou com uma mensagem falando sobre os benefícios do Open Finance – e ficou com a pergunta ‘será que vale a pena’? Na ponta dos consumidores, as vantagens são mais agilidade para o acesso a crédito e serviços financeiros, além do poder de reunir sua vida financeira em um lugar único.

Similarmente, para as companhias, os dados dão um poder de criar novos negócios, personalizar a oferta de produtos e conhecer os consumidores de uma forma ainda mais próxima. E não são apenas os bancos que estão de olho nesse filão.

As fintechs, empresas de tecnologia que atuam no setor financeiro, já se aproveitam desse cenário para oferecer produtos e melhorar a experiência dos usuários

Por outro lado, o Open Finance abre uma porta para empresas que não têm os serviços financeiros como principal atividade. O setor de varejo, por exemplo, tem nomes como Mercado Livre e Pernambucanas adotando essa estratégia.

Do lado dos consumidores, ainda há poucas ferramentas que tragam vantagens no compartilhamento de dados. Porém, no futuro, o sistema deve ampliar o leque de opções, com o consumidor conseguindo escolher melhores taxas e benefícios.

Open Finance: para quem vale a pena?

Entretanto, se engana quem pensa que o Open Finance é uma inovação isolada. “O Open Finance é uma continuação do histórico de inovações bancárias”, diz Gabriel Quatrochi, pesquisador no campo de economia da inovação e professor de Economia na Faculdade de Campinas (Facamp).

Além disso, Gabriel já atuou como analista em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CGEE/MCTI). Ele comenta que ainda não podemos definir quem vai ganhar numa concorrência entre bancos e fintechs.

A entrevista a seguir foi extraída do Ebook “Open Finance: como transformar compartilhamento de dados em oportunidades”.

Neoway Pode descrever onde o conceito de Open Finance se inclui quando pensamos na evolução e inovações dos sistemas financeiros /bancários?

Gabriel Quatrochi — O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a efetivamente regulamentar o Open Banking, em 2020. A ideia é que os dados pertencem ao cliente, e não ao banco, e, justamente por isso, é o cliente quem decide o quê e com quem compartilhar: dados de transações, pagamentos, limites de crédito, linhas de empréstimo utilizadas, produtos de investimento, que, com o consentimento do cliente, passam a ficar disponíveis às demais instituições financeiras participantes do sistema Open Banking.

O Open Finance é uma extensão e uma atualização disso, estendendo-se também aos produtos financeiros e de investimento. O que a grande maioria das pessoas desconhece é que o Open Banking não é um corpo totalmente estranho ao histórico de inovações do setor bancário. Na verdade, é uma continuação disso.

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A nossa pesquisa mostrou, ao construir uma linha do tempo das inovações bancárias no Brasil, que a tendência (e o objetivo) dessas inovações, sobretudo as de processo, sempre foi de externalizar as formas de acesso ao serviço bancário.

Desde a criação dos ATMs (caixas eletrônicos), passando pelos sistemas online (internet banking), pela utilização dos correspondentes bancários, até chegar no mobile banking e nas contas e agências digitais, a tendência sempre foi na direção do chamado “autosserviço”, de externalizar, terceirizar, a principal fonte de custos (e também a atividade menos rentável) para os bancos: os serviços transacionais, especialmente os que necessitam de intervenção humana.

Neoway Em um de seus artigos você critica a visão otimista demais sobre a chegada das fintechs. Pode explicar um pouco melhor esse ponto?

Gabriel Quatrochi — O que a nossa pesquisa levantou é que existe uma visão demasiada ingênua e otimista com relação à chegada dos novos players no setor bancário do Brasil. No sentido de que esses novos agentes serão capazes de diminuir os spreads bancários; baratear o custo do crédito; e ampliar o acesso aos serviços bancários.

Ocorre que, no entanto, quando se conhece a história das inovações e a difusão da própria tecnologia, o “empreendedorismo heróico” tende a ser gradual e sorrateiramente engolido, absorvido ou incorporado pelos incumbentes. É a tendência do próprio processo de concorrência. E é o que tem ocorrido até mesmo com startups de outros setores.

É preciso ressaltar que os dados sobre a origem dos investimentos que as principais fintechs do Brasil vêm recebendo também coloca aquele otimismo em xeque: a maioria tem obtido financiamento do grande capital bancário/financeiro internacional, enquanto a outra parcela, que recebe investimento de fundos nacionais, são de empresas de investimento que, em algum lugar de suas pirâmides acionárias, estão ligados aos grandes grupos bancários do país.

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Além de tudo isso, há, é claro, os desafios operacionais do lado das próprias fintechs: as menores têm dificuldade para atingir operação em larga escala; dificuldade na obtenção do financiamento de giro; e não cumprem os pré-requisitos ou não se qualificam para serem regulamentadas como sociedade de crédito direto (SCD) ou sociedade de empréstimo entre pessoas (SEP) — as duas modalidades legalmente reconhecidas pelo Bacen.

Neoway — De um lado, temos as novas tecnologias/abordagens trazidas pelas fintechs e, de outro, as estratégias dos incumbentes (bancos tradicionais). Quem se sai melhor nessa competição?

Gabriel Quatrochi — Seria impossível dizer quem sairá vitorioso dessa disputa concorrencial. E, na verdade, creio que nem se trate de “bancos ou fintechs”. As fintechs têm um terreno muito promissor em segmentos de atuação menores, onde os bancos não conseguem abarcar totalmente, como, por exemplo, o mercado de crédito ao micro e pequeno empreendedor sem histórico de captação.

Mas a história da tecnologia e da própria concorrência no setor pode nos dar algumas pistas. Na década de 1980/90, quando se difundiam as chamadas TICs (tecnologias da informação e comunicação), a estratégia dos bancos brasileiros foi de estreitar as relações com seus fornecedores de insumos tecnológicos, até incorporá-los, adquirindo a expertise necessária para produzir tecnologia internamente.

Assim que surgiram, na época, a Itautec (Itaú) e a Digilab (Bradesco), e foi a partir daí que os bancos brasileiros se tornaram os representantes do setor que mais demandam itens de hardware e software no mundo, à frente até dos bancos de países como Alemanha e Itália.

Hoje, os líderes Itaú e Bradesco constituíram grandes hubs de inovação, Cubo e InovaBra respectivamente, para abrigar desenvolvedores de tecnologias (startups, fintechs, acadêmicos etc.) que possam ser incorporadas aos negócios de ambas as companhias.

No meio disso tudo, o Open Banking ou Open Finance desponta como um importante meio para que se pudesse garantir, de um lado, o acesso das fintechs aos recheadíssimos sistemas de dados dos bancos; e, de outro, o acesso dos grandes bancos às inovações de ponta que têm sido trazidas ao setor pelas fintechs.

O problema é que o sistema de “autorregulação” que está sendo adotado para tentar acelerar a implementação do Open Banking no país não garante, de maneira alguma, essa colaboração recíproca entre fornecedores de dados (majoritariamente, os bancos) e demandantes (fintechs).

Por 

Neoway

A Neoway é a maior empresa da América Latina de Big Data Analytics e Inteligência Artificial para negócios. Fundada em 2002, em Florianópolis, lançou a sua plataforma SaaS em 2012, e, hoje, está presente em todo o Brasil.

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