Estudar os dados e acontecimentos do passado, encontrar padrões e extrapolar cenários é uma definição possível para o trabalho de um futurista. A outra é dizer que esse é apenas um nome para um “desempregado de luxo”, nas palavras do futurista e entrevistado do Neoway Conecta desta semana, Luiz Candreva.
Longe de ser um desocupado, o futurista tem diversas atividades: é head de inovação na consultoria Ayoo, membro do conselho da rede de alimentação Boali e professor visitante na Fundação Dom Cabral.
Nesse futuro extrapolado, as companhias vão precisar encontrar formas de tomar decisões rápidas e certeiras, já que “não há indício algum de que a quantidade de informações que nós produzimos vai diminuir”.
Confira os principais destaques da entrevista a seguir.
Neoway — Para começar, conte um pouco do que você faz? Muita gente tem curiosidade em entender o que faz um futurista?
Luiz Candreva — Um futurista é alguém que desenha cenários de futuros possíveis, prováveis e desejáveis. Basicamente, é tentar antever riscos e oportunidades que sejam interessantes para empresas, governos, entidades e até para profissionais.
Na Ayoo, a gente une três pilares: o fator humano (necessidades e anseios), tecnologia e conjuntura. Quando os três estão presentes, temos alguma transformação. Nosso trabalho é encontrar quais são esses pilares e, eventualmente, não o “quanto”, mas o “como” e “o que fazer” quando essas coisas entram em confluência.
Neoway — Você tem uma história como empreendedor e investidor em startups . Como isso se relaciona com esses cenários de futuro?
Candreva — As startups competem num mercado futuro por obrigação. Se elas forem competir no mercado presente elas naturalmente vão sofrer porque as empresas grandes vão preponderar sobre elas. Afinal, as grandes são melhores fazendo aquilo que elas já fazem.
Lá atrás, eu fundei uma agência de marketing digital e tinha uma proximidade com startups, com uma série de ferramentas. Então, me envolvi bastante com startups, investi, fundei e acaba que a necessidade de você procurar um canal de crescimento ou um ambiente em que você consiga competir com as grandes e se posicionar faz com que você olhe para o futuro. A mesma coisa aconteceu durante a pandemia, quando muitas empresas olharam para o futuro.
Neoway — É interessante entrarmos nesse tema, porque a próxima pergunta é justamente como as empresas podem conciliar as necessidades atuais e “prever” a revolução nos seus mercados?
Candreva — A verdade é que as empresas perceberam uma necessidade de que o agora já não é suficiente para resolver os problemas do agora, a gente precisa buscar o amanhã. Assim como desenhar cenários não é só olhar lá para frente. É preciso equilibrar a ambidestria — receita no presente com a relevância no futuro. Esse é o grande desafio que eu vejo nas organizações.
Da mesma forma que as startups olham para o mercado futuro, tem um monte de gente olhando para o hoje, instituições como a Fundação Getulio Vargas (FGV), a Fundação Dom Cabral (FDC), sendo especialistas nisso.
Lá para frente, olhar para o presente pode ser mais importante do que olhar para o futuro uma vez que todas as empresas já vão estar olhando para o amanhã.
Neoway — Com esse contexto, como usar os dados para definir cenários e decidir futuros?
Candreva — A história geralmente nos traz as respostas para o amanhã. Não traz todas, mas traz bons indícios. Então, quando a gente tá falando de dados, estamos falando de indícios do passado e até talvez do presente, porque você pode ter em tempo real acesso a isso [dados].
A questão é que, basicamente, desenhar cenários de futuro é conectar uma série de dados, informações diferentes e, com elas, tentar antever e projetar o que vem pela frente baseado nos aprendizados que você teve.
Perceba que as soluções mudam com uma frequência muito grande, mas as dores permanecem. Então, olhar para trás, te ajuda necessariamente a entender como nós podemos resolver essa dor.
E aí vem a soma num mundo com cada vez mais informação, cada vez com mais oportunidades, os dados ficam ainda mais complexos. É preciso enriquecer esses dados, trazê-los de maneira organizada para, de fato, desenhar o que vem pela frente. A inteligência de dados, em última análise, permite que a gente evite riscos e aproveite oportunidades. O que é válido para qualquer empresa, governo e até para qualquer profissional.
Neoway — A palavra do momento é “Inteligência Artificial”. Que áreas podem ser mais impactadas e o que a gente não vai ver, mas já está sendo trabalhado pelas empresas nesse campo?
Candreva — Estava lendo que um médico, para se manter atualizado, precisa estudar 25 horas por dia. O que denota essa velocidade que eu quero dizer. Ou seja, o mundo se tornou refém de uma velocidade que ele mesmo criou. Será que é possível a gente diminuir o volume ou a velocidade dos dados? Ou, por outro lado, será que temos que melhorar o nosso hardware?
Trazendo para as empresas, uma resposta mais longa. As empresas (e a sociedade) vão ter um desafio de entender num primeiro momento que Inteligência Artificial pode eliminar uma grande gama de empregos. O nosso modelo econômico provavelmente vai mudar também por conta da abundância que [essa tecnologia] gera.
Imagine quanto custava para você escutar música há 150 anos. Era algo restrito aos monarcas, para donos de países, hoje é super acessível gratuitamente basicamente.
Então, a Inteligência Artificial tem o potencial de enfatizar isso ou eliminar essa abundância. Acho que estamos num paradigma muito grande. Realmente, uma grande transformação para além do hype que é o ChatGPT e que é muito importante para o futuro das empresas.
Luiz Candreva é um dos convidados da websérie Inteligência Artificial: A Fronteira Final, que estreia nos canais de vídeo da Neoway nos próximos dias. Saiba mais nas redes oficiais da Neoway e no canal do YouTube Neoway Labs Tech.